Quinta-feira, 1 de Julho de 2010

Max: um madeirense que cantou pelo Mundo

 

Com a devida vénia ao Jornal da Madeira

 

Maximiano de Sousa, conhecido em todo o Mundo como Max, receberá uma homenagem no próximo mês de Outubro. O programa está em preparação e está a ser levado a cabo por um Núcleo de Homenagem ao Max, constituído para o efeito. O objectivo é o de trazer à memória das gerações mais novas a obra de Max. O artista «vai para além do género humano, porque ele transcendeu tudo o que poderíamos esperar de um homem sem letras, mas que se revistiu de letras, um homem sem instrução e que se revistiu de educação pura e um homem que soube traduzir a alma de um povo».

 

«Sem saber música, musicava, sem saber escrever bem fez as letras mais lindas da paisagística poética do País, desculpem os grandes poetas, mas aquele homem não sabia escrever» e fez mais de 170 músicas. Assim era Max, um homem humilde que pedia liçença para cantar e desculpava-se por ter cantado. Levou o nome Madeira a vários cantos do Mundo e neste momento está um pouco esquecido.Para regressar à memória do povo madeirense e também por esse mundo fora, um grupo de cidadãos decidiu prestar-lhe a devida homenagem. Para preparar o programa "Max - A Grande Homenagem", foi criado um Núcelo de Homenagem a Max constituído pelos fadistas Carlos Amaral, Manuela Nobre e ainda pelo jurista Rogério Sousa. O principal objectivo é o de prestar «a merecida homenagem pública, regional e nacional» a Maximiano de Sousa, conhecido por Max, por ter sido um dos representantes máximos da canção, do humorismo e do próprio Fado.

 

Erradamente conhecido apenas pela música "A Mula da Cooperativa", Carlos Amaral, que dá a cara por este projecto, avança ao Jornal da Madeira, que Max é muito mais do que este tema feito para o teatro. «Júlia Florista, Senhora do Monte, Fui de Viela em Viela, Vielas de Alfama, tem mais de 170 letras, todas feitas de forma quase paranormal», adianta aquele fadista. Max «não desenhava uma letra, era a mulher com uma quarta classe que lhe passava para o papel os poemas e depois ele assobiava para o guitarrista e alguém que percebia de música passava para a pauta e assim se fez as melodias de Max», explicou.Desde jovem que o açoriano Carlos Amaral teve contacto com a música de Max, por isso num dos encontros com o artista madeirense ficou surpreendido quando soube que aquele homem não sabia escrever «e a minha surpresa quando soube foi quase de vergonha, porque eu pedi-lhe um autógrafo com uma dedicatória! E ele deu-ma em soneto, o qual eu guardo em vinil editado em 1977».

 

Agora surge a questão como é que um açoriano pretende fazer uma homenagem a Max, um artista madeirense? Carlos Amaral começa por explicar que o fado está na sua família há mais de sete gerações. E entre a música clássica, o fado e a canção popular, recebeu também em sua casa as músicas de Max.Recorda o seu primeiro vislumbre da figura humilde de Max. Tinha entre sete a oito anos e estava de visita à Madeira com a sua família. Prestando a devida homenagem também ao dono de uma casa de fados emblemática da Zona Velha da Cidade do Funchal, o senhor Arsénio do Marcelino Pão e Vinho, foi aí nessa casa que viu o artista madeirense passar fugitivamente. «Vi o Max a passar, mas não cantou, vi aquela figura de barrete à Pierrot, muito tímida».«Aquele abraço vai perdurar para sempre»

 

Mas o encontro que guarda para sempre na sua memória atravessou o Atlântico e aconteceu em New Bedford, Massachusetts, Estados Unidos da América, pela mão da diva Amália Rodrigues. «Devo dizer que tive uma sensação de tremura interior, estava ao lado de uma figura que eu gostava tanto de conhecer e ainda por cima ao lado de uma diva, que já era um mito em vida». Amália Rodrigues apresentou Carlos Amaral a Max, como sendo uma das pessoas «que canta um dos seus fados, e bem, e pediu para que eu cantasse». «Senti-me lisonjeado, mas disse a Max que tinha ido ao espectáculo para escutá-lo e ao pé do mestre ninguém canta!». Carlos Amaral foi para a plateia confiante que a história não passava dali, mas qual é o seu espanto que após duas músicas, Max chama-o ao palco. «Confrontei-me, então, pela primeira vez perante uma das vedetas da vida que passam por nós». Max afastou-se dez passos «e o que aconteceu depois valeu a pena, porque aquele abraço que ainda dura e aquela homenagem vai durar e perdurar até o final dos meus tempos», recorda Carlos Amaral.

 

Por estas situações e muitas outras, Carlos Amaral tenta sempre homenagear Max, que lhe fez um pedido: «onde quer que eu estivesse, com a sua existência ou não, que eu lhe cantasse a "Júlia Florista", então a canto como a cantei junto dele, com imensa vergonha».

 

Consagrar definitivamente a figura de Max.

 

O programa da grande homenagem a Max que está a ser preparado e que, em princípio decorrerá na terceira semana de Outubro, inclui vários momentos. Para a consagração definitiva da figura de Max, o Núcelo enviou um pedido à Presidência da República para que o artista madeirense fosse agraciado com uma ordem honorífica, não inferior à que foi entregue à grande diva do fado, Amália Rodrigues. Será solicitado ao representante da República na Madeira, que esta cerimónia de entrega da comenda seja feita no Palácio de São Lourenço.Um dos pontos altos da iniciativa, serão dois espectáculos que terão lugar no Teatro Baltazar Dias. Estes espectáculos estão já em preparação, sendo que já foram mantidas reuniões com Teresa Brazão, responsável pelo departamento cultural da Câmara Municipal do Funchal. Aberto a convidados e à população em geral, «porque esta homenagem é de todos e para todos e para ele em específico», as apresentações terão muitas novidades, onde inclui um "diálogo" com Max que está a ser preparado há mais de dois meses. A pretensão do Núcleo é realizar dois espectáculos em honra de Max e haverá uma surpresa em que duas figuras nacionais estarão presentes. Uma delas trabalhou durante largos anos com Max, tendo também viajado pelo mundo ao lado do artista madeirense.

 

A colocação de lápides no edifício onde Max nasceu e uma outra onde viveu com a sua irmã está no programa de actividades, bem como a deslocalização da estátua do artista que está na Zona Velha da cidade. Carlos Amaral salienta que esta mudança é fundamental, porque neste momento não está a dignificar o artista, «não por culta do Governo Regional, porque a escultura está esplêndida, mas pela localização, por isso irá ficar à entrada da Zona Velha, junto à muralha, virada para a Rua D. Carlos I». A figura de Max está incontornavelmente ligada àquela zona da cidade, porque foi ali que viveu, trabalhou e começou como artista «e experimentou os primeiros sinais de uma morte desonrosa, o seu povo não o ajudou então damos uma oportunidade à Região de prestar a mail alta expressão da homenagem».Um blog sobre a iniciativa (http://maximianodesousa.wordpress.com) foi ainda criado e foi também solicitado à presidência do Governo Regional um dia de tolerância de ponto ou feriado em honra de Max.

 

De acordo com Carlos Amaral, esta homenagem a Max é essencial para que o artista madeirense, que conseguia imitar todos os instrumentos de sopro e que tornou o "Bailinho da Madeira" e "Noites da Madeira" verdadeiros êxitos, regresse à memória de todos. No passado já houve várias homenagens ao artista madeirense, mas «continua esquecido pelas gerações mais novas». Max «vai para além do género humano, porque ele transcendeu tudo o que poderíamos esperar de um homem sem letras, mas que se revistiu de letras, um homem sem instrução e que se revistiu de educação pura e um homem que soube traduzir a alma de um povo».

 

"Pomba Branca" será o hino da homenagem

 

O tema "Pomba Branca" será o hino da homenagem que está a ser preparada em honra de Max. Carlos Amaral explica que este tema é um hino dado à Madeira. A escolha por esta música não foi pela superioridade às outras músicas, mas pelo facto de simbolizar «a liberdade, o afecto, a amizade, a fraternidade e a grandiosidade da alma humana que é a expressão de toda a arte e do artista». O artista «soube experimentar isso naquele corpo pequeno, naquele sorriso miúdo e de uma forma extraordinária», esclareceu Carlos Amaral. Por estes e outros factores é que Max não deveria ser esquecido. Pelo menos é a opinião da fadista Manuela Nobre. Nasceu em África e aos onze anos foi viver para o continente. Está na Madeira há cinco anos e conheceu, através da televisão, o artista Maximiano de sousa. Os fados "Noite", "Júlia Florista" e ainda "Vielas de Alfama" são os preferidos daquela fadista, que adianta que «é de louvar a atitude de Carlos Amaral de homenagear o artista madeirense».

 

Já o advogado Rogério Sousa justifica a sua presença neste Núcleo com o facto de não ter sido dado relevo a uma das figuras do nosso espectro cultural. «O que me levou a contribuir foi a necessária homenagem que tem de ser feita», explicou ao JM. Max mostrou a beleza do folclore e do fado. Max demonstrou, por onde passou, a beleza do folclore da ilha e do Fado. Tornou-se grande num curto espaço de tempo e as fronteiras do País eram pequenas para o amarrar. Carlos Amaral aprendeu o bailinho com Max «três passos para a frente, três passos para trás, três para o lado direito e três para o esquerdo» e dançou juntamente com Maria Ascenção, que era a alma do Grupo de Folclore da Camacha. Relativamente ao fado, Carlos Amaral considera que este «não é feito de choraminguices, está mal interpretado assim».

 

O fado deve ser para cantar a liberdade da vida. E foi isso que Max fez e é com alegria que deve ser para sempre lembrado. Queria ser barbeiro e violinista, acabou por ser alfaiate e artista. Não poderíamos falar de Max sem contar um pouco da sua história de vida. Nascido no Funchal, a 20 de Janeiro de 1918, o artista acabou por falecer em 1980 e foi um dos representantes máximos da canção do humorismo e do próprio fado. Foi uma das mais populares vedetas da rádio, do teatro e da televisão portuguesa desde os anos quarenta, até à sua morte. A ele se devem os êxitos como "Noites da Madeira", "Bailinho da Madeira" ou "A Mula da Cooperativa". Nada faria prever que este jovem madeirense, que sonhava um dia ser barbeiro, mas que acabou por ser alfaiate, viria a ser um dos mais populares artistas portugueses.

 

Foi no Funchal que iniciou a sua carreira artística. Queria ser violinista, tinha audição para a música, mas pouca paciência para aprender o solfejo e acabou por aprender a arte da alfaiataria.O gosto pela música ficou sempre e começou a cantar em bares de hotéis. Em 1942 é um dos fundadores e baterista do conjunto de Toni Amaral, que se torna uma verdadeira sensação das noites madeirenses e que em 1946 acaba por conquistar Lisboa. É com o fado Mayerúe de Armandinho e Linhares Barbosa, mais conhecido como "Não Digas Mal Dela" que populariza a voz de Max e o faz sair do Conjunto de Toni Amaral.Lançado numa carreira a solo, Max passa a ser uma estrela da rádio e em 1949 grava o seu primeiro disco com canções como "Noites da Madeira" e o "Bailinho da Madeira". A partir daí são só sucessos: "A Mula da Cooperativa", "Porto Santo", "31" ou "Sinal da Cruz".

 

Conquistou o teatro, pelas mãos de Eugênio Salvador, na revista "Saias Curtas", em 1952. Foi a primeira de muitas revistas que o consagraram como actor e humorista. Em 1957, inicia uma digressão pelos Estados Unidos da América, interrompida por uma doença de coração. Depois de recuperado, viaja até Angola, Moçambique, África do Sul, Brasil e Argentina. Após tanto sucesso, acaba por morrer em 1980.

 

Marília Dantas

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Segunda-feira, 1 de Março de 2004

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