Com a devida vénia à Revista diário do Diário de Notícias da Madeira
Um aquário em construção
A Norte da ilha da Madeira, na frente-mar da pacata vila do Porto Moniz, biólogos e pescadores ultimam a abertura do Aquário da Madeira, que deverá ser inaugurado durante a primeira semana do próximo mês. O dia-a-dia da jovem bióloga responsável pelo departamento de aquariologia, Licínia Gouveia, está dividido entre a captura e a adaptação das diferentes espécies marinhas que vão morar nos 11 tanques do aquário, construídos de raiz no interior do remodelado Forte São João Baptista. No tanque principal a atenção vai quase toda para um tubarão capturado no mar ao largo da vila, não muito longe do local onde o aquário foi construído. Dado que é um tubarão de mar alto, e por isso não estava habituado a contornar obstáculos, sentiu algumas dificuldades nos primeiros dias, embatendo constantemente com o focinho nas rochas e no vidro do aquário.
No dia em que se colheram os elementos para este texto, o grande peixe não estava a alimentar-se. Por enquanto, a situação não era considerada alarmante, pois trata-se de um animal capaz de permanecer longos períodos sem o fazer, graças a uma «digestão muito lenta», explicou a bióloga. Daí que até tornar-se claro que este tubarão pode ambientar-se ao habitat providenciado pelo aquário - com capacidade de 500 metros cúbicos -, não virão outros da mesma espécie, observou. O espécime esguio e imponente trazido para cativeiro pela mão dos pescadores do Porto Moniz tem entre sete e nove meses de idade. Com ele nadam douradas, bodiões, pargos, safia, chopas, peixes-porco, castanhetas, meros. Mas parece indiferente à sua presença. Para Licínia Gouveia, uma explicação para tal comportamento poderá residir no facto de ser «um predador». «Está a habituado a caçar e não a "conviver" com as presas», lembrou.
Em fase de ambientação estava também um ratão que, à altura da reportagem da REVISTA, partilhava um tanque com uma moreia com cerca metro e meio. Ao contrário do seu companheiro, esta última não revelava qualquer problema ao nível da alimentação. «Farta-se de comer », contou a interlocutora. A exemplo do tubarão, também o ratão tem recusado a alimentação, pelo que não se pode afirmar que venha a ser uma das atracções do Aquário.
Outro caso especial que precisou da atenção de Licínia Gouveia nos últimos tempos assumiu a forma de uma tartaruga. Pescadores do Porto Moniz vieram entregá-la ao Aquário após a terem capturado no mar. «Têm sido muito prestáveis, auxiliam na pescaria dos animais, disponibilizando embarcações para a captura e transporte», agradece a bióloga. Mas, tal como o tubarão ou o ratão, a tartaruga é um «animal de uma certa complexidade». Por isso «revela mais tempo em se ambientar, ao contrário dos peixes, que têm outra maneira de funcionar», observa. O animal também não comia nem se mostrava interessado em vir a fazê-lo nos próximos dias, pois deixava a «comida cair ao chão».
E como era praticamente impossível e complicado forçá-la, pois costuma debater-se bastante e é muito forte, para além de ter umas mandíbulas poderosíssimas, foi necessário enviá-la para o Funchal, para a Estação de Biologia Marítima. Aqui será tratada e alimentada por pessoas qualificadas para levar a cabo essa missão complexa. Segundo os pescadores, conta a responsável, a tartaruga já não estava a comer quando foi apanhada.
«A captura de tartarugas, para além de ser errado, constitui um acto de ilegalidade bastante grande», lembra a bióloga, apelando aos pescadores para terem isto sempre presente. Mas ainda bem que «o fizeram para a trazer para nós», desculpabiliza, dado que aparentava estar doente. Depois de tratada, a tartaruga poderá ser exposta no Aquário do Porto Moniz. Mas, para tal, será necessário ultrapassar um conjunto de formalidades que não se afiguram nada fáceis, lembra a bióloga.
«Qualquer uma das cinco espécies de tartarugas que podem aparecer no arquipélago da Madeira, umas mais raras do que outras, mas todas ameaçadas de extinção, são bastante vulneráveis, sendo necessário seguir uma série de procedimentos legais para podermos expô-la», explica. «Se conseguimos obter licença ou permissão do Parque Natural da Madeira, entidade que tem a competência na Região para fazer valer as tartarugas», a exposição do animal poderá contribuir para a sua protecção. O Aquário passará a dispor de uma componente pedagógica importante.
«As pessoas que visitarem o Aquário, e que já ouviram falar nas tartarugas e nos perigos de extinção que as ameaçam, poderão criar ainda mais laços de afinidade com o animal se o puderem ver ao vivo, embora num meio não natural, mas num que lhe é propício», explica. «Ao terem a possibilidade de ver a beleza que é um animal estar no seu meio e se comportar naturalmente, penso que as pessoas vão começar a ter consciência de como é importante proteger este tipo de animais, não só estes mas todos em geral, especialmente aqueles que são mais vulneráveis».
Já agora, acrescenta Licínia Gouveia, «também era importante que as pessoas começassem a ter consciência de que é preciso proteger não só os animais em particular», mas também a «natureza no seu todo». «Não é mentira que isto está tudo ligado, e que sujando as águas matam-se os peixes e matam-se as tartarugas. Não é só capturando os animais que os pomos em risco de extinção, é também a poluição que ocorre no mar», alerta. Raúl Caires
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